quinta-feira, 8 de março de 2012

As mulheres da minha vida


Quando nasci, a mulher da minha vida já tinha 29 anos. Uma vida deixada pra trás em prol de uma vida que iria nascer.
Minha mãe, me ensinou mais do que não brigar, xingar, ou discutir [coisas que tenho desaprendido ao longo do tempo], ela me passou valores, me passou tradição, hegemonia, me passou a alma dela em pequenas porções diárias, não se importando se assim acabaria se esquecendo de si mesma.
Hoje, o dia em que comemoramos a vitória da luta feminina neste vasto mundo, comemoro uma vitória que minha mãe jamais me deixou esquecer: Bahia x Inter.
No dia 19 de fevereiro de 89, o morango do sul perdia pro Bahia, e meu pai via aquilo de pé, no José Pinheiro Borda, enquanto eu nascia.
Minha mãe jamais perdoou ele por não me ver nascer, eu entendo que ele estava inebriado vendo o time dele tomar um chocolate como o de ontem, de Neymar 3 x 1 nos morangos. Mas, minha mãe se vingou de uma forma sublime: nos fez gremistas.
2 anos e 5 dias depois de mim, nascia meu irmão, que também foi contagiado pela paixão azul de minha mãe, e pela minha torcida ainda sem consciência pura e nem palavras certas: guemio era meu time aos 2 anos e cinco dias de idade.
Minha mãe me contava sobre o campeoníssimo Grêmio, me falava de Baidek, de Renato, de Alcino, de Tarciso, me falava até de assis [vulgo mutreta, ou irmão pilantra mais velho], me contava do mundial, da libertadores, dos gauchões, das copas. E assim foi, pouco a pouco colocando o Grêmio dentro de mim. O Grêmio de minha mãe era de encher os olhos. Eu passava horas imaginando como seria ter visto esses jogadores em campo, hoje com a era da internet, tenho a minha disposição jogos completos desses caras fantasticos que me enchiam o pensamento, mas na minha imaginação, eles eram deuses alados, com peitos de ferro, espada na mão, guerreiros por excelência.
Minha mãe se encarregou de me fazer, e de meu irmão, os gremistas mais fanáticos e doentes pelo azul que o RS poderia ter visto.
Em contrapartida, meu pai, paranaense adotado pelo RS, que de inicio foi torcedor do Santos [o mesmo de ontem 3 x 1 lembra?], time que meu avô paterno torcia, se convertera em um colorado reprimido, a vida toda tentando me convencer a torcer pelo rival, mas eu não era boba, dizia que não via vantagem em torcer pra um time que não vencia nada além de gauchões, e que meu time era superior, melhor, campeão do mundo. E então ele desistiu. Tentou a mesma coisa com meu irmão, mas ele sempre foi muito puxa saco da minha mãe, que mesmo que fosse colorado jamais iria admitir. Então, pai, perda de tempo tentar nos convencer a mudar um coração moldado por um coração já gremista.
Na disputa interna pelo coração das crianças, ainda tive uma tia que me chantageou a torcer pelo morango do sul se não eu não ganharia um presente de aniversário. Devo confessar, foi a unica vez que fingi algo semelhante. No final das contas, acabei ganhando um abrigo meio torto, feito por ela mesmo, vermelho com detalhes em azul. Feio de doer. E mal feito. Coisa caracteristica daquela mulher, que só me dava porcarias de presente. Ainda bem que fingi por 5 minutos, ela me deu, e voltei a me sentir bem com o mundo, gritando que era gremista.
A mulher mais importante da minha vida me deu de presente a maior paixão que tenho: Grêmio Foot-Ball Portoalegrense.
E sempre serei grata a minha mãe, por me fazer gente, e ainda mais, por me fazer gremista.
Cresci, e aos 14 anos ganhei uma priminha, linda, querida, maravilhosa, hoje com 9 anos. Coitadinha, paranaense, sem time pra torcer por la, por influência da mãe dela, uma colorada triste, se inclinou a torcer pelo vermezinho. E foi assim por até os 7 anos dela, quando ela descobriu que existem times melhores, e melhor ainda, existe o Grêmio. Foi simplesmente mostrar o Grêmio e a guria se converteu. Hoje é uma das mais apaixonadas azuis que temos na familia.
Uns anos antes, outra menina nascia, dia 4 de março, e viria a ser minha primeira afilhada, gremista até nos olhos, azuis da cor do mar, desde pequena vibrando com o tricolor, quando o impensado aconteceu. 2006, ela com uma idade relativamente suficiente para estudar, mas não tanto pra analisar o bom e belo que o Grêmio sempre foi, sucumbiu a massa infindável de "novos colorados", aqueles que finalmente viram o vermezinho vencer algo importante e tiraram as camisas surradas do armario que além de esconder aquele trapo continha umas bolinhas de naftalina, e minha primeira afilhada se tornou colorada.
Triste decepção.
Eu sempre brinquei que se tivesse um filho, e ele fosse colorado, meu pai criaria ele, porque não crio cobra em casa, mas como não terei filhos, não corro esse risco. Mas, minha única afilhada colorada? Doeu viu?!
Mas o tempo se encarrega de justificar as coisas.
Ano passado, 18 de fevereiro, véspera da data em que saí do útero [parafraseando Stewie Griffin], minha prima que se tornara gremista me liga, dizendo que nasceria naquela data, dia 18, a irmã mais nova dela, ela já tinha uma irmãzinha que iria me surpreender.
Eu fiquei feliz, mas disse que não, ela nasceria dia 19, faria aniversário comigo, e sem que eu imaginasse, essa profecia se concretizaria.
Nasceu minha segunda afilhada, na mesma data que eu.
A mais nova paixão da minha vida. Minha linda que cresce a cada dia mais linda.
Eu como uma madrinha dedicada e sempre do bem, aos 6 meses dela, comprei uma mamadeira azul, um bico do verdadeiro Campeão de Tudo, e levei ao Paraná [pra minha afilhada nº1 dei como primeiro presente uma bicicleta, mas só um bico do Grêmio já seria mais que qualquer bicicleta de carbono] e a surpresa aconteceu.
Minha afilhada pequena, ainda não mamava na mamadeira, então a mamadeira azul cairia em desuso, e como o bico era pra crianças acima de 8 meses, também não poderia ser usado por ela. Que culpa tenho eu em não ter filhos e não saber distinguir um vendedor mal intencionado?
Minha priminha do meio, tomou o bico de minhas mãos, tomou a mamadeira da irmãzinha, e adotou de coração aberto. Uma gremista que escolheu ser gremista. Brincava com a mamadeira, usava o bico sempre, não permitia que ninguém mexesse neles, e dizia com orgulho: Meu bico do Grêmio!
Foi surreal, tentei colocar uma gremista nova na família e a gremista estava lá o tempo todo.
Tudo bem que eu fazia essa priminha dormir no colo, nanando ao som do hino gremista, e ela certamente sonhava com algo azul, algo bom, algo como o nosso campeão. A nova gremista é uma nova gremista, a nova versão de mim, a nova guria que herdará a canga de manter o Grêmio vivo em nossa família. E como o de costume, herdou o amor incondicional que sinto por cada bebê novo que nasce ao meu redor.
Ainda não posso determinar o que irá ocorrer com a minha afilhada nº 2. É pequena, e não rejeitou o Grêmio porque ainda não o conheceu. Mas espero que o Grêmio esteja no auge quando ela puder entender e for se fazer torcedora.
Em resumo, as mulheres da minha vida são todas maravilhosas, uma mãe louca pelo azul, uma priminha linda que torce pelo pior time, uma afilhada ainda não gremista mas que com o tempo saberá escolher o melhor, e duas primas que me deixam sem palavras. Existe uma corinthiana em minha vida também, mas isso não conta e nem irei contar.
Só tenho algo a dizer a essas MULHERES que eu amo, tanto a mulher que me deu a vida e a minha maior paixão, quanto as mulheres que ainda não se formaram totalmente: MUITO OBRIGADA, e meus sinceros parabéns. Vocês fazem a minha vida valer a pena!
Parabéns a todas nós, mulheres, que mesmo com toda a graça e beleza caracteristicas de nosso clã, sabemos que um bom futebol de quarta tem seu valor, e mais ainda, se for o nosso Grêmio, tem sabor especial.
Feliz dia mundial da mulher!

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